A caminho de ministrar uma palestra sobre finanças em Porto Alegre e filosofando sozinho, na maneira de como utilizar a tecnologia para este fim, acabei desviando o foco e fazendo um estudo sobre o impacto das redes sociais na Umbanda.
Fiquei num dilema shakesperiano, internet ou não-internet no mundo religioso? De um lado a internet e seus "nativos digitais" que conjugam com naturalidade os verbos linkar, blogar e twittar e de outro a milenar tradição oral.
Um conflito de gerações e, conforme estudiosos, uma mudança na forma de pensar e de se relacionar. Alguns cientistas e neurocientistas acreditam que a geração de "nativos digitais" pode estar empobrecendo ou aumentando cada vez mais a dificuldade na interpretação de contextos e símbolos.
Esta situação pode estar acontecendo devido aos apelos superficiais e simultâneos que a web apresenta, a falta de capacidade analítica pode estar trazendo, pela falta de uso, perda de habilidades cerebrais. Por outro lado, o cérebro humano demora aproximadamente 27 anos para ficar pronto e isto tem relação com a falta de concentração dos jovens e a imaturidade independente da internet.
Mas um fato é certo, os jovens se habituaram a confiar no computador, que é a "bíblia" deles. Vivem em função do Google como fonte de consulta e relações em redes sociais, possuem engajamento social - como o curtir e compartilhar - mas normalmente não possuem ação coerente.
A religião tem entre outros apelos a emoção e, conforme a teoria de Jung, do processo de Individualização: a autorealização emocional durante a vida. Buscando o autoconhecimento prestigiamos a análise dos símbolos que precisam ser interpretados.
A tradição oral traz formas diferenciadas e criativas de compartilhar o conhecimento como a transmissão de tradições e valores culturais. Já o computador não tem nada a dizer em termos de emoção.
A relação que a religião pede é a do mestre e do aprendiz. A diversidade de uma religião, como as afro-brasileiras, ocorre devido a um longo processo de seleção natural. Na ciência a seleção natural cumpre seu papel ao longo de bilhões de anos e não a um imediatismo como o mito de Adão e Eva, onde não há um processo de evolução.
A internet tem colaborado para aproximar o grupo interessado, rompe com barreiras existentes no passado e tem sido um grande canal de divulgação. Após a revolução digital, que também é conhecida como revolução do conhecimento, o mundo tornou-se mais globalizado e de informações ágeis o que não permite o aprendizado apenas na pratica diária dentro dos templos e ao mesmo tempo não se pode imaginar que o mistério (pajubá) ou o segredo (awo) estarão disponíveis na web.
Temos hoje à disposição possibilidade de captar, armazenar, processar, multiplicar e disseminar informações.
A internet interrompeu o processo do "isto é um segredo que até eu desconheço" e, com certeza, critica o modelo linear de transmissão do conhecimento e sugere outro baseado na troca e na associação livre de conteúdos.
O uso indiscriminado pode trazer um problema: sem a relação da vivência a internet torna-se apenas um imenso bazar de variedades sem começo, meio e fim.
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