segunda-feira, 12 de abril de 2010

Axé, efun e waji

Para os Yorubás, o asé, ou mais popularmente conhecido como axé, que é a força vital.
Segundo Maupoil (citado por E. dos Santos, 1986) axé é a força invisível, a força mágico-sagrada de toda divindade, de todo ser animado, de toda coisa. Não aparece espontaneamente, precisa ser transmitida.

Qualquer chance de realização na existência depende do axé que, enquanto força, obedece a algumas leis:
1. é absorvível, desgastável, elaborável e acumulável;
2. é transmissível através de certos elementos materiais, de certas substâncias;
3. uma vez transferido por essas substâncias a seres e objetos, neles mantém e renova o poder de realização;
4. pode ser aplicado a diversas finalidades;
5. sua qualidade varia segundo a combinação de elementos que o constituem e que são, por sua vez, portadores de uma determinada carga, de uma particular energia e de um particular poder de realização. O axé dos Orixás, por exemplo, é realimentado através de oferendas e de ação ritual, transmitido por intermédio da iniciação e ativado pela conduta individual e ritual;
6. pode diminuir ou aumentar.

O axé encontra-se numa grande variedade de elementos do reino animal, vegetal e mineral.
Encontra-se em elementos da água, doce e salgada e da terra. Acha-se contido nas substâncias essenciais de seres, animados ou não.

Elbein dos Santos (1986) apresenta uma classificação do axé em categorias: sangue vermelho, sangue branco e sangue preto. O sangue vermelho, no reino animal compreende o sangue propriamente dito, animal e humano, aí incluído o fluxo menstrual; no reino vegetal, inclui o epo, azeite de dendê, o osun, pó vermelho extraído de pterocarpus erinacesses e o mel, sangue das flores. O sangue branco, inclue: no reino animal, o hálito, o plasma, o sêmen, a saliva, o suor e outras secreções; no reino vegetal, a seiva, o sumo, o álcool e as bebidas brancas extraídas de palmeiras e de alguns vegetais, o ori, manteiga vegetal e oiyerosun, pó esbranquiçado extraído do irosun; no reino mineral, os sais, o giz, a prata, o chumbo, etc.

O sangue preto compreende, no reino animal, as cinzas de animais; no vegetal, o sumo escuro de certas plantas, o ilu, índigo extraído de diferentes tipos de árvores, pó azul escuro chamado wáji; no reino mineral, o carvão, ferro, etc.

Para poder atuar, o axé deve ser transmitido através de uma combinação particular que contém representações materiais e simbólicas do branco, do vermelho e do preto, do aiye e do orun, competindo ao oráculo a definição da composição necessária do axé a ser implantado ou restituído.

O sangue - animal, vegetal ou mineral - é substância indispensável para a restauração da força.
Todo ritual, seja uma oferenda, um processo iniciático ou uma consagração, realiza implante da força ou revitalização.
O que vive,
para poder realizar-se ou realizar,
precisa de axé e,
não sendo a fonte inesgotável,
a reposição se faz necessária
e é obtida através da prática ritual
que reatualiza a força do tempo primordial,
o tempo da criação!

A importância da regularidade dos ritos reside no fato de que a presença das entidades sobrenaturais é favorecida pela atividade ritual, ocasião privilegiada da transferência e redistribuição do axé. Este, oriundo das mãos e do hálito dos mais antigos, na relação interpessoal, é recebido através do corpo e atinge níveis profundos, incluídos os da personalidade, através do sangue mineral, vegetal e animal das oferendas.

Primeiramente, gostaria de citar que existem diferenças entre efun e pemba, osùn e urucum, wàji e anil, estes primeiros facilmente importados do continente Africano, não havendo a necessidade de substituí-los.

Efun é um nome jeje-nago dado a vários tipos de pó, utilizados nos rituais afro brasileiro. É muito mais conhecido pelos leigos e na Umbanda como pemba, nomeclatura utilizada pela nação angola.
No Afro-brasileiro utilizamos somente três pinturas durante a cerimônia do EFUN AGBÉ: efun - (um tipo de argila branca), osùn – um tipo de pó vermelho, obtido da árvore Baphia nitida e Peterocarpus osun ambas Leguminosae Papilionoideae e o wáji – um tipo de pó azul, obtido da árvore Indigofera sp. Leguminosae Papilionoideae.

Cada uma destas cores estão relacionadas com determinados Odus e existem vários significados para as pinturas, poderei citar as três principais a saber: As três representam as três passagens do dia, o amanhecer (efun) o crepusculo (osùn) e o anoitecer (wàji). Essas pinturas também representam uma forma de proteção contra as forças maléficas das três principais Iyami Àjé (as feiticeiras) impedindo-as que pousem sobre as pessoas e uma das principais caracteristicas destas pinturas, tem como objetivo vincular todo o àse transmitido ao noviço durante os ritos da iniciação.

O wáji é um elemento muito importante no culto aos Orixás, uma vez que, junto com outros elementos, ajuda a proteger a cabeça dos nossos iyawos contra as Ajé. Segunda a crença africana essas pinturas impediriam que eleyé (ave ligada as Iyami) pousasse no ori das neoiniciadas, pois caso isso ocorresse seria um desastre para vida dessa pessoa.

O wáji representa a cor dundun (preta), o sangue azul que vem das folhas. Existem diversas espécies que podem ser utilizadas para a produção de corantes azuis como a Isatis tinctoria , Indigofera tinctoria e o Lonchucarpus cyanescens. Segundo alguns relatos, as duas primeiras não seriam utilizadas para a produção do wáji tradicional, sendo apenas usadas para a confecção do anil (usado para tingir jeans, por exemplo). O verdadeiro wáji seria, portanto, retirado do processo de fermentação das folhas do Lonchucarpus sp. que é conhecido pelo nome de índigo africano ou índigo Yorubá.

O processo de fabricação desse corante era complexo e exigia grande perícia, sendo cercado de prescrições e proibições rituais. Era tão importante que os tinteiros Yorubás cultuavam até uma divindade específica para essa finalidade, Iyá Mapo. O pano tingido de índigo significava riqueza, abundância e fertilidade.

terça-feira, 6 de abril de 2010

O Terceiro Setor


O termo ONG, ou seja, Organização não Governamental, Terceiro Setor (do inglês Third Sector) ou Setor sem fins Lucrativos (Nonprofit Sector), refere-se de modo genérico a toda organização que não possuem objetivo econômico.

A economia é separada em quatro setores:
- 1° Setor da economia é o Estado regulamentado pela Constituição da República Federativa do Brasil, Lei de Responsabilidade Fiscal, PPA - Plano Plurianual, LOA - Lei Orçamentária Anual e LDO - Lei de Diretrizes Orçamentárias entre outros;
- 2° Setor da economia é a Iniciativa Privada regulamentada pela Constituição da República Federativa do Brasil, Código Civil e Leis Ordinárias;
- 3° Setor da economia são as instituições sem fins lucrativos.regulamentada Constituição da República Federativa do Brasil, Código Civil e Leis próprias de sua regulamentação;

- 4 ° Setor da economia, sem regulamentação pois é o crime organizado.

Foi utilizado pela primeira vez pelo Conselho Econômico e Social (ECOSOC) das Nações Unidas em 1950. No Brasil, começou a ser utilizada na metade da década de 80, referindo-se exclusivamente às organizações que realizavam projetos junto aos movimentos populares, normalmente na promoção social.

Normalmente as ONGs são grupos sociais organizados que:
- Possuem uma função social e política em sua comunidade ou sociedade;
- Possuem uma estrutura formal e legal;
- Estão relacionadas e ligadas à sociedade ou comunidade através de atos de solidariedade;
- Não objetivos sobre lucros;
- Possuem considerável autonomia.

Opiniões erradas sobre o Terceiro Setor:
- Informalidade;
- Achar que fazendo o bem e que não há necessidade de cumprir “ BUROCRACIAS “;
- Acreditar que todo mundo é bom, portanto não há necessidade de “ formalismos “;
- Obra Social “ não paga impostos e taxas “;
- Obra Social “ não paga Quota Patronal “;
- Qualquer papel serve pois meu convênio aceitou documento.


Não existe um tipo de ONG que seja mais abrangente no campo social ou político do que outras. Todas, das pequenas e locais até as grandes e internacionais, desempenham um papel sócio-político importante.

Tentar adjetivar ONGs, por suas ações específicas, como do tipo de esquerda ou de direita, de combate ou assessoria, técnicas ou de militância é uma maneira equivocada de conceituar o papel político de uma ONG. Seria desviar a atenção da opinião pública sobre as funções de uma ONG, para rótulos que dividem, não somam.

Isto porque se ela existe, atuante e presente, em um campo de ação social específico, é lógico supor que ela atende interesses de um grupo sócio-cultural, dentro de uma faixa do espectro político existente. Aí repousa sua legitimidade.


Conforme Peter F. Drucker: “Todas as instituições ‘sem fins lucrativos’ têm algo em comum: são agentes de mudança humana. Seu ‘produto” é um paciente curado, uma criança que aprende, um jovem que se transforma em um adulto com respeito próprio; isto é, toda uma vida transformada.”

Em contrapartida, as redes de solidariedade e de interesses imediatos podem não ser as mesmas para todas as ONGs, isto determina a diversidade do campo de ação política de cada uma delas.
Para o caso específico deste manual, em resumo, podemos considerar que as "ONGs são instituições privadas, com fins públicos", como sinteticamente expõe o antropólogo Rubem Cesar Fernandes.

Em outras palavras, ONG são "grupos de pressão que buscam por um lado influenciar e democratizar políticas públicas governamentais para que essas supram da maneira mais extensa possível às necessidades da sociedade e de condições de vida iguais e justas no mundo todo e, por outro, movimentar a sociedade em que estão inseridas, utilizando-se de suas relações de solidariedade, na busca dessa democratização e influência política" (Menescal, in Gonçalves).

Os números sobre o Terceiro Setor no Brasil demonstram claramente que existe uma ampla possibilidade de expansão com uma maior participação do PIB.

O Terceiro Setor apresenta a possibilidade de atuação permanente fora da “maquina do estado”, para que as condições de vida da população excluída possam melhorar. O ativismo político poderá ser acompanhado de ações concretas de intervenção na transformação das pessoas e da sociedade.

A possibilidade de ser um setor gerador de empregos, tendo em vista, o processo de exclusão social que se intensificou no Brasil. O 3º Setor por natureza, trabalha com a prestação de serviços sociais que não podem ser substituídos no seu atendimento por máquinas.

No Brasil as Empresas Sem Fins Lucrativas possuem as seguintes categorias:
- Associações: são organizações baseadas em contratos estabelecidos livremente entre os indivíduos para exercerem atividades comuns ou defenderem interesses em comuns ou mútuos;
- Organizações Filantrópicas, Beneficentes e de Caridade: são organizações voltadas para seus clientes na promoção de assistência social e de serviços sociais nas áreas de saúde e educação;
- Organizações Não Governamentais: como nas associações estas organizações são comprometidas com a sociedade civil, movimentos sociais e transformação social;
- Fundações Privadas: são uma categoria de conotação essencialmente legal. A criação de uma fundação se dá, segundo o CCB, pelo instituidor, que através de uma escritura ou testamento, destina bens livres, especificando o fim a ser alcançado;
- Organizações Sociais: organização pública não estatal destinado a absorver atividades publicizáveis (áreas de educação, saúde, cultura, meio ambiente e pesquisa científica) mediante qualificação específica.

As empresas brasileiras estão seguindo uma tendência internacional e deixando de praticar somente filantropia de caráter provisório para atuar em ações sociais de longo prazo. Pesquisas mostram que atualmente 59% das empresas no Brasil possuem alguma atividade social.

Nestas atividades encontramos doações e estímulo para que seus funcionários sejam voluntários. Muitas destas empresas além de sua consciência social também passaram a ter uma preferência pelo consumidor.

Há muita expectativa da ampliação da base de atuação política, mobilizando assim em torno de temas mais amplos que irão contribuir para a criação de uma democracia econômica.