quinta-feira, 24 de junho de 2010

Porque o ÈSÙ-ELEGBA (africano) foi associado ao diabo?

Èsù é o primeiro nascido da existência e, como tal, o símbolo do elemento procriado. Mensageiro dos Orixás, elemento de ligação entre as divindades e os Homens, a um tempo mais próximo do mundo terreno e mais perto do elevadíssimo espaço celeste por onde transita Òrúnmìlà, é um orixá, é sempre a primeira divindade a receber as oferendas, justamente para que atue como um aliado e não como um rival que perturbe os procedimentos místicos desenvolvidos durante os rituais. Coerente com seu lugar místico privilegiado, é ele que abre esse "corpus mitopoético".

Princípio dinâmico e princípio da existência individualizada, Èsù não pode ser isolado ou classificado em nenhuma das categorias. Ele é como o axé (que ele representa e transporta), participa forçosamente de tudo.

Os assentamentos de Èsù encontrados na África eram considerados obscenos e imorais pelos europeus que lá chegaram. Em toda expedição que era feita à África sempre tinham padres missionários com a finalidade de catequizar e converter os pagãos africanos. E naturalmente essa catequese não permitia que continuassem a cultuar seus Orixás pagãos. (Pierre Verger - Notas sobre o culto aos Orixás e Voduns – pág. 133)

Os amigos viajantes muito falaram dessa divindade que a todos impressionava por seu aspecto erótico. Pruneau de pommegorge foi o primeiro que; tanto quanto podemos saber, descreveu um Legba. Eis como apresenta o Legba de Ouidah, onde permaneceu de 1743 a 1765.

A um quarto de légua dos fortes os dahomets ainda têm um deus Príapo, feito grosseiramente de terra, com seu principal atributo, que é enorme e exagerado em relação à proporção do restante do corpo. As mulheres, sobretudo, vão oferecer-lhes sacrifícios, de acordo com sua devoção e com o pedido que lhe farão. Esta má estátua encontra-se debaixo do forro de uma choupana que a abriga da chuva.

A representação de Èsù na África é um pênis que para o africano é o símbolo masculino da procriação, da fertilidade masculina, sem ele ninguém nasceria, o pênis é o veículo do sêmen fecundador e gerador do ser humano. É visto com naturalidade, sem malícia e sem obscenidade.

Para os africanos o pênis é representado naturalmente, uma escultura, como aquelas que se vê nos museus europeus em estátuas gregas e romanas.

Os europeus ao chegarem na África encontraram figuras com um pênis na cabeça, sem a capa de tecido da foto acima, que foi colocada para tirar a foto e para ficar mais discreto aos olhos não acostumados ou maliciosos.
Imaginem os missionários, devem ter ficado horrorizados com tanta indecência e imoralidade, logo taxaram como coisa do Diabo que os africanos nunca tinham ouvido falar.

Existem várias representações de Èsù. Eshu, Exú, Elegbara, legba são algumas formas de escrever. Segundo Pierre Verger em Notas sobre o culto aos Orixás e Voduns (pág. 119).
Èsù Elegbara e Legba na África, Èsù Elegbara dos yorùbá, Legba dos fon, encerra aspectos múltiplos e contraditórios que dificultam uma apresentação e uma definição coerentes.

A ligação de Èsù com Diabo na África, nada mais foi do que uma arma usada pelos missionários para que os pagãos se convertessem ao cristianismo e abandonassem suas crenças.

Enquanto no candomblé tradicional Èsù é cultuado como um Orixá guardião da comunidade, protetor da casa e das pessoas que lá buscam ajuda, pois não incorporam nas pessoas aleatoriamente, é um Orixá como outro qualquer, mas só vai incorporar na pessoa que for seu filho.

Cada Omo Òrìsà tem seu Èsù pessoal que é assentado juntamente com o seu Orixá por ocasião da iniciação, mas esse também não incorpora é o intermediário entre a pessoa e seu Orixá, é um protetor.

Estes Èsù não incorporam em ninguém, seus assentamentos são feitos cada um com material específico e para uma finalidade específica.

Èsù Yangi
Senhor da Laterita Vermelha
Èsù Agba
Senhor Ancestral
Èsù Igba Keta
Senhor da Terceira Cabaça
Èsù Okoto
Senhor do Caracol
Èsù Oba Bàbá ÈsùRei e Pai de todos os Èsùs
Èsù Odara
Senhor da Felicidade
Èsù Osije
Mensageiro Divino
Èsù Eleru
Senhor da Obrigação Ritual
Èsù Enu GbarijoSenhor da Boca Coletiva
Èsù Elegbara
Senhor do Poder Mágico
Èsù Bara
Senhor do Corpo
Èsù Lònán
Senhor dos Caminhos
Èsù Olobe
Senhor da Faca
Èsù Elebo
Senhor das Oferendas
Èsù Àláfia
Senhor da Satisfação Pessoal
Èsù Oduso
Vigia dos Odus


Muitos espíritos de Umbanda, Quimbanda, adotaram o nome de Exú para se identificarem, e incorporam em médiuns desenvolvidos, são comparados ao Diabo através de imagens de gesso em formato de capeta com chifre e rabo, são pintadas de vermelho e muitos usam capas pretas
Os falangeiros (Guias representantes) de Exu trazem na frente de seus nomes o próprio nome do Orixá: Exu ou Pomba-gira (que tem como origem na Angola - bombogira, que é a representação de Exu em forma feminina).
São exemplos de alguns falangeiros (Guias representantes) de Exu na Umbanda:
Exu das Sete Encruzilhadas, Exu Pé de Ferro, Exu Veludo, Exu Marabô, ... (Exus Masculinos); Pomba-gira Maria Padilha, Maria Molambo, Maria Quitéria, ... (Exus Femininos).
As vezes, pelos fato dos falangeiros (Guias representantes) de Exu utilizarem o seu nome do Orixá, Exu, na frente de seus nomes, pode causar alguma confusão entre os praticantes da Umbanda, pois confundem o guia com o Orixá. Isso já não acontece no Candomblé, pois não existe o trabalho de Guias representantes, só do Orixá e suas qualidades (dijinas).
No sincretismo Judaico-Cristão Exu foi associado a imagem de Santo Antônio, mas pejorativamente, por suas características e cores, foi associado também ao Diabo, a Satanás. Essa é uma associação que é, além de injusta, é ignorante, pois Exu é o próprio sentido da vida, da criação, do amor, do bem viver.

Temos que considerar também que a Coroa Portuguesa criou uma lei que, no seu primeiro artigo, determinava que todos deveriam ser batizados na religião católica. Essa legislação atendia, acima de tudo, às relações entre o governo português e a igreja católica, e à teologização da igreja católica a respeito da África, dos africanos e da escravidão.

O Padre Antônio Vieira em seus Sermões (XI e XXVIII), afirma que a África é o inferno onde Deus se digna a retirar os condenados, pelo purgatório da escravidão nas Américas.

Recentemente assisti o filme “A Dança das Cabaças”, um fantástico documentário sobre este preconceito,que esta disponivel no blog original Danças das Cabaças http://dancadascabacas.blogspot.com/

terça-feira, 22 de junho de 2010

O caroço de Dendê

Quando o mundo foi criado, o caroço de dendezeiro teve uma grande responsabilidade dada pôr Olorum, a de guardar dentro dele todos os segredos do mundo.

No mundo Yorubá, guardar segredos é o maior Dom que Olorum pode dar a um ser humano. É pôr isso que todo caroço de dendê que tem quatro furinhos é o que temtodo o poder. Através de cada furo, ele vê os quatro cantos do mundo para ver como vão as coisas e comunicar a Olorum.

E mais ninguém pode saber desses segredos, para não haver discórdia e desarmonia. É pôr meio dessa fórmula que o mundo tem seus momentos de paz. Existe também o caroço de dendê que tem três furos, mas a esse não foi dada a responsabilidade de guardar os segredos.

Existe uma lenda que diz que Exu, com raiva desta condição que Olorum deu ao coco dendezeiro de quatro furos, quis criar o mesmo poder de ver tudo à sua moda, com brigas e discórdias. Ele chamou o coco de dendê de três furos e disse.
- Olhe, de hoje em diante, eu quero que você me conte tudo o que vê. Aí o dendê lhe respondeu: - Como? Se eu só tenho três olhos e não quatro, como meu irmão, a quem Olorum deu este poder?
- Ousas me desobedecer a dendê?
– disse Exu aborrecido.
- Sim! Tu não és mais do que aquele que é responsável pela minha existência e atua – respondeu o coco de dendê.
Dizendo isto, sumiu. E Exu, desta vez, não foi feliz na sua trama. .

Itan de Ogun

"OGUM MATA SEUS SÚDITOS E É TRANSFORMADO EM ORIXÁ"

Ogum, filho de odudua, sempre guerreava, trazendo o fruto da vitória para o reino de seu pai.Amante da liberdade e das aventuras amorosas, foi com umamulher chamada Ojá que Ogum teve o filho Oxóssi.Depois amou Oiá, Oxum e Obá, as três mulheres de seumaior rival, Xangô.

Ogum seguiu lutando e tomou para si a coroa de Irê, que naépoca era composto de sete aldeias.Era conhecido como o Onirê, o rei de Irê, deixando depoiso trono para seu próprio filho.

Ogum era o rei de Irê, Oni Irê, Ogum Onirê.Ogum usava a coroa sem franjas chamada " acorô ".Por isso também era chamado de Ogum Alacorô.Conta-se que, tendo partido para a guerra, Ogum retornoua Irê depois de muito tempo. Chegou num dia em quese realizava um ritual sagrado.

A cerimônia exigia a guarda total do silêncio.Ninguém podia falar com ninguém.Ninguém podia dirigir o olhar para ninguém.

Ogum sentia sede e fome, mas ninguém falava com ele.Ninguém o ouvia, ninguém o entendia.Ogum pensou que não havia sido reconhecido.Ogum sentiu-se desprezado. Depois de ter vencido aguerra, sua cidade não o recebia.Ele, o rei de Irê.

Não reconhecido pela sua própria gente !!Humilhado e enfurecido, Ogum, espada em punho,Pôs-se a destruir a tudo e a todos.Cortou a cabeça de seus súditos.

Ogum lavou-se com sangue.Ogum estava vingado.

Então a cerimônia religiosa terminou e com ela aImposição de silêncio foi suspensa.Imediatamente, o filho de Ogum, acompanhadopor um grupo de súditos, ilustres homens salvosda matança, veio à procura do pai.

Eles renderam as homenagens devidas ao rei e aoGrande guerreiro Ogum.Saciaram sua fome e sede.Vestiram Ogum com roupas novas, cantaram edançaram para ele.Mas Ogum estava inconsolável.

Havia matado quase todos os habitantes da sua cidade.Não se dera conta das regras de uma cerimônia tãoimportante para todo o reino.Ogum sentia que já não podia ser o rei.

Ogum estava arrependido da sua intolerância, envergonhado por tamanha precipitação.Ogum fustigou-se dia e noite em autopunição.

Não tinha medida seu tormento,nem havia possibilidadede autocompaixão.Ogum então enfiou sua espada no chão e num átimo de segundo a terra se abriu e ele foi tragado solo abaixo.

Ogum estava no Orun, o Céu dos Deuses.Não era mais humano.
Tornara-se um Orixá.

===============MITOLOGIA DOS ORIXÁS - Reginaldo Prandi
Companhia Das Letras - 2001P
esquisa do autor.:Pierre Verger,1957,p 142 - 1999,p 152]
Ulli Beier,1980,pp.34-5;verger 1980,p.286;Veger 1981(b)
Pp 23-4;Verger 1985,p.15===============

Os Caminhos de Ifá

Ifá é o sistema através do qual se processa a consulta oracular, popularmente tratada por adivinhação.O oráculo baseia-se nos dezesseis principais Odù (caminhos), através dos quais Orunmila relata histórias e lendas cujos personagens normalmente enfrentam situações similares aquelas expostas pelo consulente. Mas a escolha da história a ser narrada compete à Divindade.Os dezesseis Odù relacionam-se com si próprios (16 x 16), perfazendo um total de 256 caminhos ou diferentes possibilidades de destino, tratados por Esè.
No momento da consulta, Orunmila envia o Odù que será suficiente para orientar as dúvidas do consulente e esclarece de que forma tal caminho (positiva ou negativa) está influenciando a vida da pessoa. O Sacerdote interpreta a fala da Divindade, estabelece os pontos principais que devam ser modificados para restabelecer a tranquilidade ou o bem estar físico,financeiro, sentimental etc. A partir daí resta definir quais oferendas votivas (Ebò) devem ser realizadas para possibilitar a consecução do prognóstico, bem como aconselhar a respeito de atitudes ou comportamentos que facilitem o resultado pretendido.
Assim, por exemplo, quando um indivíduo queixa-se de não conseguiremprego, mas insiste em continuar numa área onde o mercado de trabalho estácompletamente saturado, Orunmila pode esclarecer as suas dificuldades,recomendar os Ebò necessários e aconselhá-lo a tentar outra profissão para aqual tenha aptidão, ou simplesmente deslocar-se para outra região onde sejamais simples conseguir ocupação. Em outras palavras, o Céu sempre ajuda, mas a pessoa deve também fazer a sua parte.

Os Odù de Ifá são completos e absolutos; cada um deles possui umlado claro e outro escuro, ou seja, um lado positivo e outro negativo, o Inge o Iang, o masculino e o feminino e assim por diante, a feição de tudo o mais no Universo.Não existe Odú melhor que outro; dependendo das circunstâncias, o melhor deles transforma-se no pior, e vice-versa..
A participação fundamental do Òrìsà Esù
Esù Ojisebo
A interpretação das falas do Oráculo é feita pelo Sacerdote preparado para essa finalidade e ocorre através do auxílio poderoso do Òrìsà Esù, o grande mensageiro e intermediário entre os seres humanos e as Potências Divinas.
Esù é quem movimenta as peças do jogo (búzios) para formar as configurações que serão interpretadas pelo Sacerdote. Sem a participação dessa Divindade, as respostas seriamtotalmente ininteligíveis para os seres humanos.
É ele que acompanha atentamente as atitudes e palavras tanto do sacerdote quanto do consulente, principalmente quanto à sinceridade de cada um no momento da consulta.
Da mesma forma é quem fiscaliza todo os procedimentos rituais, desde a consulta oracular até a elaboração das oferendas votivas determinadas. Após isso, ainda é Òrìsà Esù que transporta as oferendas para o mundo espiritual (Òrún) e, se forem aceitas, traz de volta a resposta Divina, na forma da benção solicitada. Torna-se então essa Divindade o grande aliado da Homem na realização do próprio destino.
Os Dezesseis Odùs de Ifà
01 Èjì Méjì / Ogbè Méjì
02 Òyèkú Méjì
03 Ìwòrì Méjì
04 Òdí Méjì
05 Ìrosùn Méjì
06 Òwónrín Méjì
07 Òbàrà Méjì
08 Òkànràn Méjì
09 Ògúndá Méjì
10 Òsá Méjì
11 Ìká Méjì
12 Òtúrúpòn Méjì
13 Òtúrá Méjì
14 Ìretè Méjì
15 Òsé Méjì
16 Òfún Méjì